Um fato marcante na pesquisa agrícola
mundial é que seu financiamento e execução
pelo poder público é característica de
todos os países que modernizaram sua
agricultura – e assim permanece nos tempos
atuais. Nesses países, convivem lado a
lado a pesquisa pública e a da iniciativa privada.
A pesquisa pública evolui lentamente
em áreas de investimento de longo prazo
e mais sujeitas a riscos e a incertezas,
porém propicia maiores taxas de retorno.
A pesquisa da iniciativa privada, por sua vez,
predomina num ambiente de taxas de juros
elevadas, com a decorrente pressão pela
produção de resultados em curto prazo.
As organizações de pesquisa privada
exigem mercados amplos para estabilizarem
o lucro, por isso se organizam sob as
mais diversas formas (oligopsônios, oligopólios,
monopólios ou monopsônios) e
operam em vários países para ampliarem
as vendas dos resultados de pesquisa e
facilitar a captação de crédito a taxas mais
baixas. Evidentemente, se determinado
produto é o carro-chefe nas vendas, prioridades
de pesquisas que podem pôr a
perder essa fonte de lucro dificilmente serão
escolhidas. No campo da agricultura,
as patentes não são permitidas para várias
áreas, as quais não estarão entre as prioridades
da pesquisa privada, a não ser que o
governo pague os custos. Daí o importante
papel da pesquisa pública.
No Brasil, a agricultura desempenha
importante papel no abastecimento interno
e nas exportações. Seu crescimento
também se deve sobremaneira à ciência e
tecnologia. E a exemplo de outros países
que dominam a produção de alimentos no
mundo, a presença do governo na grande
empreitada de gerar conhecimentos,
em associação com a iniciativa privada, é
fundamental. Na condição de instituição
governamental dedicada à pesquisa agropecuária,
a Embrapa vem trilhando esse
caminho há 46 anos e se dedica continuamente
para se ajustar aos novos tempos,
trazidos por leis recentes relacionadas ao
trabalho em ciência, tecnologia e inovação.
Nesse contexto, para que os impactos
da pesquisa agropecuária nas exportações
e consumo, assim como em outras dimensões
(social, ambiental, institucional),
continuem sendo registrados em documentos
importantes, tais como relatórios
de gestão e balanços sociais, torna-se fundamental
o investimento ininterrupto pelo
Estado na capacitação de suas instituições
de ciência e tecnologia (C&T), enfatizando
áreas básicas, mas também voltadas à
pesquisa aplicada. É ainda necessário promover
e facilitar a interação dessas instituições
com o setor privado, além de reafirmar
a liderança de tais organizações e
da Embrapa em especial.
Outro aspecto que distingue a pesquisa
pública é a necessidade de garantir e promover
sua transparência para a sociedade,
que investe recursos disputadíssimos
por outros setores nas suas atividades.
É importante que suas instituições prestem
contas de cada real investido, demonstrando
qual benefício a população recebeu em
troca. Quanto a isso, a Embrapa desenvolveu
vários procedimentos: artigos em
revistas especializadas, entrevistas em
rádios e tevês, criação e interação em mídias
sociais, contatos diretos com autoridades
e visitas às Unidades de Pesquisa.
Em termos específicos, esse esforço
culmina todos os anos com a publicação
do seu Balanço Social. Esta 22º edição utiliza
metodologia consolidada e consagrada,
mas em constante aperfeiçoamento pela
própria Empresa. Essa iniciativa, alinhada
à literatura mundial, contém inovações
metodológicas marcantes – tais como a
adoção do enfoque multidimensional e
periodicidade anual –, tornando a Embrapa
referência nacional e internacional na análise
da efetividade da pesquisa pública.
Como poderá ser verificado nesta edição,
cada real investido pelo Estado na Embrapa,
em 2018, trouxe de volta mais de
12 reais (Relação lucro social x Receita
operacional líquida). Essa alta rentabilidade
é também demonstrada por meio da taxa
interna de retorno (TIR), indicador mais adotado
na literatura internacional. Levando-se
em conta todos os investimentos feitos
pela Embrapa desde a geração da amostra
de 165 tecnologias constante do Balanço
Social e os retornos sociais por ela gerados,
a TIR estimada foi de 37,6%. Essa taxa é
comparável a de estudos similares no Brasil
e no exterior, que, de maneira geral, atestam
que os investimentos públicos em pesquisa
agropecuária têm sido compensadores.
Esta edição do Balanço Social vem demonstrar
um enorme esforço da Empresa
em apresentar sua efetividade, ampliando
em 30% a amostra de tecnologias avaliadas
sob o ponto de vista de impacto.
Foi realizado também um trabalho adicional
para apresentar aproximadamente duas
centenas de soluções tecnológicas de adoção
consolidada (outcomes). Além dessas
duas iniciativas, a análise multidimensional
de impactos foi enriquecida com duas
novas dimensões: a dimensão de impacto
institucional e a de impacto em políticas públicas
Soma-se a esse esforço a relevante contribuição
dos Centros de Pesquisa na produção
científica global da Embrapa, que a coloca
entre as dez mais produtivas instituições
do País – com a publicação de 16.493 artigos
entre 2003 e 2017 –, assim como no desenvolvimento
de 3.389 resultados de pesquisa,
desenvolvimento e inovação (PD&I) em
2018. Destacam-se ainda casos de sucesso,
como o projeto de transferência de tecnologias
de café para as etnias indígenas Tupari
e Aruá, que as tornaram referência na produção
de cafés especiais, o manejo de solos
para reduzir quebra de safras por veranicos
e a Caravana Embrapa para controlar a praga
exótica Helicoverpa armigera, que vinha
atacando diversas culturas no País. Podem
ser citados também a forrageira tropical Paiguás,
o grão-de-bico BRS Aleppo, o aplicativo
Roda da Reprodução e a cultivar de arroz
fino BRS Pampeira.
Todas essas contribuições da Embrapa
correspondem a uma amostra do seu
trabalho na produção de conhecimentos
e desenvolvimento de tecnologias, bem
como na subsequente tarefa de levar esses
produtos aos setores produtivos nos
mais distantes rincões do País, para serem
por eles incorporados e gerarem impactos.
Essa dedicação da Embrapa, no final
das contas, não beneficia apenas os produtores
rurais, mas toda a cadeia produtiva
e, em especial, os consumidores, localizados,
em sua grande maioria, no meio urbano.
Nessa imensa roda viva que envolve
cientistas, administradores, produtores e
consumidores, entre outros, cabe destacar,
com certeza, o esforço e a dedicação
de todos os empregados da Embrapa, cuja
efetividade é evidenciada neste documento,
em suas múltiplas dimensões.