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O processo de avaliação multidimensional de impactos na Embrapa
A incorporação de inovações tecnológicas no processo produtivo agropecuário promove benefícios econômicos, sociais e ambientais, que se refletem no desenvolvimento socioeconômico e na sustentabilidade da região beneficiada. No entanto, para que esses benefícios sejam confirmados, faz-se necessário monitorar, investigar, avaliar e, até mesmo, medir os efeitos do uso ou da adoção dos resultados da pesquisa agropecuária.
A avaliação dos impactos das tecnologias, nessa perspectiva, possui dois propósitos.
O primeiro é conhecer os efeitos da adoção das novas tecnologias e utilizar tal resultado como insumo para o processo de pesquisa e desenvolvimento (P&D), ou seja, para saber em que medida o planejado foi alcançado, que impactos causou e o que pode ser aprimorado em pesquisas futuras. O segundo propósito é a prestação de contas, pois uma instituição pública de P&D precisa reportar seus resultados a seus investidores - nesse caso, o governo federal - e à sociedade brasileira. O cumprimento dessas finalidades é, portanto, o que garante a qualquer instituição pública sua sustentabilidade.
Embora o universo de tecnologias avaliado seja bem inferior ao total de inovações tecnológicas geradas pela Embrapa, ficam evidentes os ganhos anuais obtidos pelo setor agropecuário ao incorporar essas soluções tecnológicas. Dessa forma, o retorno de mais de 12 reais por real investido na Embrapa em 2019 demonstra, mais uma vez, que o investimento governamental em pesquisa agrícola tem sido altamente rentável para a sociedade brasileira.
Há mais de 40 anos, a Embrapa tem realizado sistematicamente estudos de avaliação de impactos para demonstrar a efetividade de sua pesquisa, a fim de prestar contas à sociedade. Essa experiência de décadas, pioneira no mundo por sua continuidade e multidimensionalidade de seu enfoque de avaliação, permitiu à Empresa e, sobretudo, aos seus gestores, melhor fundamentar seus informes anuais à sociedade sobre a efetividade dos recursos públicos.
Há cerca de 20 anos, no entanto, o processo de avaliação de impacto foi institucionalizado e descentralizado, tornando-o uma atividade contínua em todos seus centros de pesquisa. Anualmente, as principais tecnologias são monitoradas e avaliadas, visando conhecer os impactos econômicos, sociais e ambientais dos investimentos realizados. Ademais, também há mais de 20 anos, a Embrapa publica e divulga amplamente os resultados de tais avaliações em seu Balanço Social, já que a transparência é um dos valores da instituição.
O gráfico Lucro social da Embrapa apresenta a soma dos benefícios econômicos gerados anualmente por uma amostra de tecnologias em comparação com o orçamento anual da Empresa no mesmo período. Todos os valores foram corrigidos com base no Índice Geral de Preços (IGP-DI) de dezembro de 2019. Dessa forma, é possível demonstrar o ganho obtido pelo setor agropecuário ao incorporar as soluções tecnológicas geradas pela Embrapa. Assim, demonstra-se que o investimento governamental em pesquisa agrícola é altamente rentável para a sociedade brasileira.
Figura 1: Lucro social e Orçamento da Embrapa de 2001 e 2019.
Esse gráfico não representa apenas os dados nele contido, mas também o esforço da Embrapa em desenvolver e aprimorar seu processo de avaliação multidimensional de impactos, reconhecido nacional e internacionalmente. Em recente estudo realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), por exemplo, essa experiência da Embrapa foi colocada no mesmo patamar de prestigiadas instituições similares dos Estados Unidos, da França e da Austrália. Já em âmbito nacional, o grande reconhecimento ocorreu em 2019, quando a Avaliação de Impactos da Pesquisa Agropecuária da Embrapa foi vencedora da 23ª edição do Concurso Inovação no Setor Público, promovido pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap), na categoria "Inovação em Processos Organizacionais no Poder Executivo Federal".
Diversidade de tecnologias
As tecnologias produzidas pela Embrapa são bastante diversificadas e, muitas delas, são usadas concomitantemente pelo produtor em uma mesma atividade agropecuária. Esse é o caso, por exemplo, da cultura da soja, cujas tecnologias vão desde a fase do cuidado com o solo (correção do solo, uso do gesso agrícola na cultura da soja no Cerrado), com a semente e com o meio ambiente (fixação biológica de nitrogênio, vazio sanitário, manejo integrado de pragas, redução da quantidade de sementes na lavoura) até o cuidado com a planta. Assim, o produtor brasileiro tem acesso a diversas tecnologias desenvolvidas pela Embrapa em sua atividade, maximizando os benefícios econômicos, sociais e ambientais. No gráfico da página seguinte, é possível observar que o alcance das tecnologias da soja abrange toda a área plantada com essa cultura no Brasil.
Downloads de publicações e citações dos artigos, dois indicadores de efetividade
A efetividade dos conhecimentos gerados e publicados pelo corpo técnico dos Centros de Pesquisa da Embrapa passou a ser avaliada também por meio de indicadores de citações da produção técnico-científica e de número de downloads das publicações técnicas da Embrapa em acesso aberto.
A análise da produção técnico-científica e das citações dos artigos publicados pelos pesquisadores das Unidades da Embrapa tem sido objeto de estudo desde meados dos anos 2000, tomando como referência a base de dados internacional Web of Science (WoS). Quanto aos números de downloads, a Empresa tem buscado aperfeiçoar a gestão dos downloads de suas publicações institucionais de acesso aberto. Tal gestão institucional, tanto das citações, quanto dos downloads, permite o uso desses indicadores no critério de efetividade para os centros de pesquisa.
24 milhões de “downloads” das publicações técnico-científicas
O número de downloads das publicações da Embrapa disponíveis na internet está associado ao uso dos conhecimentos gerados e divulgados pela Empresa, especialmente no âmbito da assistência técnica pública e privada. Os dados desse indicador são coletados por meio dos módulos de estatística das bases de dados de acesso aberto da Embrapa no mês de janeiro do ano seguinte ao ano objeto da avaliação, considerando a data final de coleta 31 de dezembro do ano objeto da avaliação. Assim, em 2018, foram computados 22.123.340 downloads de publicações técnicas da Empresa. Já em 2019, houve um aumento de 9%, atingindo a marca de 24.020.821 downloads.
118 mil citações da produção técnico-científica entre 2011 a 2018
As citações dos artigos da Embrapa na base de dados Web of Science (WoS) são um indicador de impacto dos conhecimentos da Empresa na comunidade científica. Essas citações são coletadas no período de julho/agosto do ano seguinte ao ano base, e abrangem sempre um período de 10 anos. Assim, para os resultados de 2018, utiliza-se o período de 2010 a 2017 e, para 2019, o período de 2011 a 2018. No período entre 2010 e 2017, foram computadas 95.190 citações de artigos da Embrapa na WoS; entre 2011 e 2018, as citações chegaram a 118.049, o que representa um aumento de 24%.
Manejo agrossilvipastoril e correção de solos
Em 2019, os impactos econômicos das soluções tecnológicas da Embrapa relacionadas a diferentes tipos de manejo totalizaram 26 bilhões de reais. A fixação biológica de nitrogênio na soja está incluída nesse rol; adotada em mais de 35 milhões de hectares, a tecnologia respondeu, sozinha, por uma economia de mais de 22 bilhões de reais para os produtores de soja. Os demais tipos de manejo também se beneficiaram das tecnologias desenvolvidas pela Embrapa, que significaram uma economia de 4,5 bilhões de reais. Como se observa no gráfico apresentado a seguir, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e o manejo agropecuário representam mais da metade do ganho dessas soluções tecnológicas.
Esse grupo de tecnologias apresenta a área de adoção e os impactos de uma amostra de soluções tecnológicas relacionadas a diferentes tipos de manejo. Em 2019, as tecnologias da Embrapa desenvolvidas para manejo florestal foram adotadas em 10,8 milhões de hectares, as voltadas para manejo do solo foram aplicadas em quase 12 milhões de hectares e os diversos tipos de ILPF e manejo agropecuário da Embrapa somaram 6,16 milhões de hectares avaliados em 2019.
É importante ressaltar que essa área relatada nos casos de ILPF apresentados no Balanço Social de 2019 é um recorte correspondente a estes estudos, tendo em vista que no Brasil, em 2019, a estimativa da área destinada à ILPF já supera os 16 milhões de hectares, segundo dados da Kleffmann e atualizações da Rede ILPF.
Fibras, oleaginosas e cereais
A amostra de soluções tecnológicas de adoção consolidada somada as tecnologias que tiveram seus impactos avaliados em 2019 trouxeram, além de variedades, o trabalho dos Centros de Pesquisa relacionados aos sistemas de produção e zoneamento. A Embrapa participa ativamente no trabalho relacionado ao zoneamento de diversos cultivos. Assim, além da geração de variedades de algodão, soja, sorgo, milho, aveia, cevada, canola, gergelim, arroz, feijão, entre outras, a pesquisa da Embrapa fornece subsídios relacionados ao manejo dessas culturas.
Convém destacar que 49% da área plantada com feijão no Brasil utiliza variedades da Embrapa, ou seja, os resultados da pesquisa pública podem ser observados diariamente no prato de milhões de brasileiros, garantindo a segurança alimentar da população. Já as variedades de arroz sequeiro da Embrapa correspondem a 29% do total da área plantada desse cereal.
Produção animal
Em 2019, os impactos econômicos gerados pelas soluções tecnológicas da Embrapa relacionadas à produção animal somaram mais de 8,34 bilhões de reais. Esse montante equivale ao que o setor ganhou em função da adoção de uma das amostras de tecnologia da Embrapa. Dentre esse tipo de solução tecnológica, se encontram raças melhoradas de suínos, aves, caprinos, ovinos, gado de leite e de corte. Somam-se a esses melhoramentos tecnologias que promovem a sanidade animal e uma amostra da adoção e dos benefícios gerados pelos diversos tipos de manejo que a Embrapa desenvolve. Além disso, aproximadamente 90% da área plantada com forrageiras no Brasil utiliza variedades da Embrapa. Em linhas gerais, as tecnologias desse grupo são utilizadas em mais de 64 milhões de hectares e aplicadas em mais de 44 milhões de cabeças de gado.
Frutos e castanhas
A diversidade da pesquisa da Embrapa pode ser ainda observada na quantidade de soluções tecnológicas voltadas para a produção de frutos e castanhas. Em 2019, as variedades desenvolvidas pela Embrapa de manga, uva, banana, caju, citros, pêssego, coco, guaraná, abacaxi, cupuaçu, maracujá, morango, pera, entre outras foram adotadas em mais de 90 mil hectares no Brasil. Já as tecnologias relacionadas ao manejo de frutos e castanhas da Empresa foram utilizadas em quase 200 mil hectares em território nacional. Os impactos econômicos que os produtores obtiveram a partir de uma amostra desse tipo de tecnologia foi de mais de 900 milhões de reais.
Hortaliças e leguminosas
Hortaliças e leguminosas fazem parte da alimentação do brasileiro e, dessa forma, também integram os programas de melhoramento da Embrapa. Em 2019, os agricultores de leguminosas e hortaliças que utilizaram as variedades da Embrapa obtiveram, conjuntamente, mais de R$ 645 milhões.
A adoção real de cultivos de fácil propagação é sempre um desafio, mas estima-se que a adoção das hortaliças e leguminosas destacadas da amostra dá-se em mais de 34 mil hectares.
Os impactos da amostra de tecnologias
O impacto total das soluções tecnológicas desenvolvidas e transferidas pela Embrapa e seus parceiros à sociedade é muito maior do que o apresentado neste documento.
Isto porque o Balanço Social 2019 analisa impactos de apenas uma amostra de 160 tecnologias e cerca de 220 cultivares e a Embrapa, em toda a sua história, já desenvolveu e transferiu mais de 10 mil tecnologias para o setor agropecuário e florestal brasileiro.
Estas soluções tecnológicas e seus impactos econômicos, sociais, ambientais e institucionais, taxas internas de retorno e outras informações correlatas podem ser conferidas nos links temáticos a seguir.
As tabelas contem links para os relatórios técnicos elaborados segundo a metodologia de avaliação multidimensional de impactos adotada pela Empresa.
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